O maior problema é que o ano tem 12 meses e as crianças nascem em todos eles. Para resolver tal questão, talvez pudéssemos decretar o nascimento de crianças até 30 de junho, apenas. Pelo menos no Estado de São Paulo.
É essa a data de corte para a matrícula no primeiro ano do Ensino Fundamental por aqui. Isso faz com que pais de crianças que nasceram em meados de julho ou nos meses subsequentes contestem a medida.
Pais advogados ou de outras profissões têm mil argumentos dos mais lógicos e legais aos mais apaixonados e grosseiros na busca de tentar garantir ao filho o domínio da leitura, da escrita e da aritmética o mais cedo possível.
Quais as razões que os pais têm para essa atitude? Sem dúvida, o clima altamente competitivo em que vivemos. O raciocínio é o de que quanto mais cedo a criança começar o aprendizado formal, maiores seriam suas chances de se dar bem na vida futuramente.
Pesa também a quase certeza da precocidade das crianças: elas se viram muito bem com as mais variadas facetas do mundo adulto e muitas demonstram gosto pelas letras, números e tarefas escolares. Entretanto, estudos e pesquisas têm apontado que não há relação entre uma vida escolar exitosa com início precoce dela.
Talvez fosse mais interessante pensar no presente das crianças e não em seu futuro. Na Educação Infantil, a criança goza ou deveria gozar de liberdade para aprender. Explora o mundo à sua volta de preferência em um ambiente amigável, confiável e seguro -ao seu modo, em seu tempo e sempre por meio de brincadeiras, sem ser dirigida por adultos, apenas acompanhada por estes. O grande aprendizado nessa época da vida é o que chamamos de socialização: aprender a conviver consigo mesma, com o grupo de pares e com adultos por eles responsáveis.
Para bem começar o Ensino Fundamental e o primeiro ano dele ainda deve ser de mais tempo dedicado ao brincar do que ao ensino formal a criança deve estar preparada para estar com os outros em um espaço comum, saber compartilhar, seguir sem grandes dramas as instruções dadas, acatar as orientações dos adultos e estar pronta para crescer. Tudo isso é muito mais importante que suas habilidades com letras e números.
Colocar a criança antes dos seis anos nesse clima é queimar uma etapa em sua vida, é colocá-la sob pressão. Em nome dos anseios dos adultos? Não vale a pena já que sabemos que toda etapa queimada, um dia volta. Só não sabemos como.
Rosely Sayão
O ALFABETO NO PARQUE
ResponderExcluirAdelia Prado
Eu sei escrever.
Escrevo carta, bilhetes, lista de compras, composição escolar narrando o meu belo passeio à fazenda de vovó que nunca existiu porque ela era pobre como Jó.
Mas escrevo também coisas inexplicáveis:
Quero ser feliz, isto é amarelo.
E não consigo, isto é dor.
Vai-te de mim, triteza, sinto gago, pessoas dizendo entre soluços: "Não aguento mais."
Moro num lugar chamado globo terrestre onde se chora mais que o volume das águas denominadas mar, para onde levam os rios outro tanto de lágrimas.
Aqui se passa fome. Aqui se odeia.
Aqui se é feliz, no meio de invenções miraculosas.
Imagine que uma dita roda gigante propicia passeios e vertigens entre luzes, música, namorados em êxtase.
Como é bom! De um lado os rapazes, do outro as moças, eu louca pra casar e dormir com meu marido no quartinho de uma casa antiga com asoalho de táboa.
Não há como não pensar na morte, entre tantas delícias, querer ser eterno.
Sou alegre e sou triste, meio a meio.
Levas tudo a peito, diz minha mãe, dá uma volta, distrai-te, vai ao cinema.
A mãe não sabe, cinema é como dizia o avô: "cinema é gente passando, viu uma vez, viu todas".
Com perdão da palavra, quero cair na vida.
QUERO FICAR NO PARQUE, A VOZ DO CANTOR AÇUCARANDO A TARDE. ASSIM ESCREVO: TARDE. NÃO A PALAVRA. A EXPERIÊNCIA, VIVÊNCIA E ALEGRIA.