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domingo, 29 de novembro de 2009

Início precoce não garante vida escolar exitosa





Muitos pais de crianças que estão com cinco anos agora, principalmente se completados no segundo semestre, estão mergulhados em uma missão: convencer a escola de que o filho está apto a iniciar o Ensino Fundamental em 2010.

O maior problema é que o ano tem 12 meses e as crianças nascem em todos eles. Para resolver tal questão, talvez pudéssemos decretar o nascimento de crianças até 30 de junho, apenas. Pelo menos no Estado de São Paulo.

É essa a data de corte para a matrícula no primeiro ano do Ensino Fundamental por aqui. Isso faz com que pais de crianças que nasceram em meados de julho ou nos meses subsequentes contestem a medida.

Pais advogados ou de outras profissões têm mil argumentos dos mais lógicos e legais aos mais apaixonados e grosseiros na busca de tentar garantir ao filho o domínio da leitura, da escrita e da aritmética o mais cedo possível.

Quais as razões que os pais têm para essa atitude? Sem dúvida, o clima altamente competitivo em que vivemos. O raciocínio é o de que quanto mais cedo a criança começar o aprendizado formal, maiores seriam suas chances de se dar bem na vida futuramente.

Pesa também a quase certeza da precocidade das crianças: elas se viram muito bem com as mais variadas facetas do mundo adulto e muitas demonstram gosto pelas letras, números e tarefas escolares. Entretanto, estudos e pesquisas têm apontado que não há relação entre uma vida escolar exitosa com início precoce dela.

Talvez fosse mais interessante pensar no presente das crianças e não em seu futuro. Na Educação Infantil, a criança goza ou deveria gozar de liberdade para aprender. Explora o mundo à sua volta de preferência em um ambiente amigável, confiável e seguro -ao seu modo, em seu tempo e sempre por meio de brincadeiras, sem ser dirigida por adultos, apenas acompanhada por estes. O grande aprendizado nessa época da vida é o que chamamos de socialização: aprender a conviver consigo mesma, com o grupo de pares e com adultos por eles responsáveis.

Para bem começar o Ensino Fundamental e o primeiro ano dele ainda deve ser de mais tempo dedicado ao brincar do que ao ensino formal a criança deve estar preparada para estar com os outros em um espaço comum, saber compartilhar, seguir sem grandes dramas as instruções dadas, acatar as orientações dos adultos e estar pronta para crescer. Tudo isso é muito mais importante que suas habilidades com letras e números.

Colocar a criança antes dos seis anos nesse clima é queimar uma etapa em sua vida, é colocá-la sob pressão. Em nome dos anseios dos adultos? Não vale a pena já que sabemos que toda etapa queimada, um dia volta. Só não sabemos como.

Rosely Sayão

Um comentário:

  1. Daniele Critina Puccio Alves20 de dezembro de 2009 às 22:36

    O ALFABETO NO PARQUE
    Adelia Prado

    Eu sei escrever.
    Escrevo carta, bilhetes, lista de compras, composição escolar narrando o meu belo passeio à fazenda de vovó que nunca existiu porque ela era pobre como Jó.
    Mas escrevo também coisas inexplicáveis:
    Quero ser feliz, isto é amarelo.
    E não consigo, isto é dor.
    Vai-te de mim, triteza, sinto gago, pessoas dizendo entre soluços: "Não aguento mais."
    Moro num lugar chamado globo terrestre onde se chora mais que o volume das águas denominadas mar, para onde levam os rios outro tanto de lágrimas.
    Aqui se passa fome. Aqui se odeia.
    Aqui se é feliz, no meio de invenções miraculosas.
    Imagine que uma dita roda gigante propicia passeios e vertigens entre luzes, música, namorados em êxtase.
    Como é bom! De um lado os rapazes, do outro as moças, eu louca pra casar e dormir com meu marido no quartinho de uma casa antiga com asoalho de táboa.
    Não há como não pensar na morte, entre tantas delícias, querer ser eterno.
    Sou alegre e sou triste, meio a meio.
    Levas tudo a peito, diz minha mãe, dá uma volta, distrai-te, vai ao cinema.
    A mãe não sabe, cinema é como dizia o avô: "cinema é gente passando, viu uma vez, viu todas".
    Com perdão da palavra, quero cair na vida.
    QUERO FICAR NO PARQUE, A VOZ DO CANTOR AÇUCARANDO A TARDE. ASSIM ESCREVO: TARDE. NÃO A PALAVRA. A EXPERIÊNCIA, VIVÊNCIA E ALEGRIA.

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