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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Histórias de amigos secretos



Confraternização do Morgado


Tenho um amigo que todo final de ano na empresa fazia um comentário bizarro na festa de confraternização. Na hora da revelação do amigo secreto, feitas aquelas apresentaçõezinhas de praxe, aqueles despistes para crescer o suspense, lá vinha ele com a máxima: “Que no próximo ano estejas novamente aqui para reclamares da vida”. E dava o presente ao seu amigo.

Havia, claro, entre tantos “Feliz ano novo, que seus sonhos se realizem” e outras variantes tais um silêncio geral de desconforto. Ninguém entendia o porquê daquilo, mas também se omitia de inquiri-lo. Talvez por admitir que a inquirição pudesse causar ainda mais constrangimentos.

Eram preferíveis os beijos, os abraços, as trocas de presentes, depois o brinde, os fogos espocando e os sorrisos acolhendo o Ano Novo.

Era assim até certa confraternização na empresa. Foi há seis anos. A empresa, diga-se, é uma grande multinacional com filiais em várias partes do Brasil. Havia um funcionário novo, transferido de São Paulo. Era sua primeira festa de final de ano na filial.
Tudo corria bem na festa. Na hora do amigo secreto, novamente o Morgado não primou pela novidade.

“Agora é ele?”, disseram vários colegas em tom de mofa. “É sim!”, confirmaram outros. “Ih! Lá vem ele com a mesma coisa”, eram outros augurando suas palavras. E não deu outra. O Morgado havia tirado o Renildo no amigo secreto, o funcionário transferido de São Paulo. O Renildo era desses homens pragmáticos, que aceitam os números facilmente pela sua exatidão, mas têm dificuldades em lidar com a subjetividade pelas variantes que possibilita. Quando entregou o presente e se cumprimentaram, largou na bucha: “Que no próximo ano estejas novamente aqui para reclamares da vida”. O coro dos outros participantes deixou o Renildo encabulado. No ato ele fez uma cara de intriga, mas imediato passou à ação: “Por que disse isso?”, talvez pensando que o Morgado e a turma estivessem de troça com ele.

O Morgado fora pego de surpresa. Nunca haviam contestado ou caçoado com o seu bordão, por isso ficou uns instantes de boca aberta, numa expressão a meio caminho entre um sorriso e a surpresa. Até o silêncio constrangido de todo ano estava mais carregado após suas palavras.

Ninguém quebrou o gelo antes de o Morgado explicar tudo. As últimas risadas, com certeza, ainda ecoavam nos ouvidos atentos dos participantes, como acontecia comigo.
Mas o Morgado driblou o aperto, e até com méritos, creio. Parece que já tinha havia anos a resposta pronta. Não respondeu de imediato, acredito, mais surpreso porque a turma fizera coro às suas palavras e não por alguém finalmente o argüir.

Abraçou forte o Renildo e disse a plenos pulmões: Não se chateie, quer maior presente que a felicidade de ano que vem estar vivo e aqui?”

O Renildo desarmou-se da reserva e confraternizou com o Morgado. A turma toda aplaudiu com hurras e vivas.
Não sei por que, mas no outro ano o Morgado mudou o bordão. A expectativa de que repetisse tudo era grande, havia um novo funcionário transferido na filial, por coincidência o amigo secreto dele. A cara geral era de apreensão na turma, mas o Morgado disse tão somente: “Feliz ano novo”. Houve um “Oh!” “Ah Não!” uníssono no salão de festas ao final de suas palavras.
O novo funcionário olhou-o intrigado, perguntando: “Por que isso?”

Um comentário:

  1. Como todo amigo secreto que se preze,sempre existirá aquela pessoa "especiallllllllllllll".
    Mas sem ela,nenhuma confraternização tem graça,pq esperamos sem pelas perólas,com que ela irá nos brindar.Então, seja lá quem for a nossa Morgado,vamos nos divertir muito.Vamos pegar nosso Kit de Alegria e será só diversão.Adoro todas vcs,cada uma do seu jeitinho.BJS

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